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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Uma cronica de Miguel Andresen de Sousa Tavares



[...]Antes que a ideia de Deus esmagasse os homens, antes dos autos de fé, das perseguições religiosas da Inquisição e do fundamentalismo islâmico, o Mediterrâneo inventou a arte de viver. Os homens viviam livres dos castigos de Deus e das ameaças dos Profetas: na barca da morte até à outra vida, como acreditavam os egípcios. E os deuses eram, em vida dos homens, apenas a celebração de cada coisa: a caça, a pesca, o vinho, a agricultura, o amor. Os deuses encarnavam a festa e a alegria da vida e não o terror da morte.

Antes da queda de Granada, antes das fogueiras da Inquisição, antes dos massacres da Argélia, o Mediterrâneo ergueu uma civilização fundada na celebração da vida, na beleza de todas as coisas e na tolerância dos que sabem que, seja qual for o Deus que reclame a nossa vida morta, o resto é nosso e pertence-nos – por uma única, breve e intensa passagem. É a isso que chamamos liberdade – a grande herança do mundo do Mediterrâneo.
(...) Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.


Miguel Sousa Tavares, in 'Não Te Deixarei Morrer, David Crockett '

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Glenn Gould


Glenn Herbert Gould
(25 de setembro de 1932; 4 de Outubro de 1982)

Foi um genial e renomado pianista canadense, conhecido especialmente por suas gravações de Johann Sebastian Bach. Suas gravações das Variações Goldberg são consideradas um marco na música ocidental do século XX. Gould abandonou as apresentações ao vivo em 1964, dedicando-se, desde então, apenas às gravações em estúdio, pelo resto de sua carreira, com um estilo de tocar muito peculiar, muitas vezes excêntrico.
Gould nasceu com o nome de Glenn Gold, em Toronto, Ontario. Sua família era protestante e mudou o seu nome logo após o seu nascimento, temendo que ele fosse confundido com um judeu, com isso, seu nome foi mudado de Gold para Gould para protegê-lo da onda de anti-semitismo que havia tomado o Canadá na década de 1930. Depois de aprender piano com sua mãe, cujo avô era um sobrinho de Edward Grieg, Gould matriculou-se no Royal Conservatory of Music em Toronto, quando tinha apenas 10 anos. Ali, estudou piano com Alberto Guerrero, órgão com Frederick C. Silvester, e teoria musical com Leo Smith.

Há uma teoria segundo a qual Glenn Gould sofria desde a infância de uma forma menor de autismo, a síndrome de Asperger. Ausência de empatia, desinteresse pelas relações humanas, algumas obsessões (como a hipocondria) fazem parte dessa síndrome.

Em 1945, fez sua primeira apresentação pública, tocando órgão, e no ano seguinte a sua primeira aparição com uma orquestra (a Toronto Symphony Orchestra), em uma performance do Concerto no. 4 para piano e orquestra, de Beethoven. Seu primeiro recital público seguiu-se em 1947 e sua primeira apresentação na rádio CBC aconteceu em 1950. Este foi o começo de uma longa associação com o rádio e com as gravações em disco em geral.

Em 1957, em plena era da Guerra Fria, Gould promoveu uma turnê pela União Soviética. Ele foi o primeiro cidadão do continente norte-americano a tocar ali depois da II Guerra Mundial.

No dia 10 de abril de 1964, Gould tocou em sua última apresentação pública, em Los Angeles, Califórnia, e pelo resto de sua vida se concentrou em outros interesses, como as gravações, escritas, transmissão de rádio e televisão, documentários e composição (ainda que tenha, de fato, produzido poucas composições).

Gould morreu em 1982, em Toronto, depois de sofrer um derrame profundo. Está enterrado no cemitério Mount Pleasant, em Toronto.



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Somewhere over the rainbow


(Judy Garland in The Wizard of Oz (1939)


Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?

E.Y. Harburg


domingo, 2 de agosto de 2009

POEMA PARA ANNE FRANK



Onde uma flor cresce,
onde uma palavra se faz carne,
onde um raio de luz se continua,
onde umas mãos se dão,
onde o beijo é bandeira,
onde um hino se canta,
onde o Amor é Pátria,
onde os céus e as árvores,
os pássaros e os homens
se transformam, aí está viva e pura
*Anne Frank,
aí estaremos nós.

(Outubro, 1957.)


António Rebordão Navarro
(Portugal)

*Anneliese Marie Frank, mais conhecida como Anne Frank. Nasceu a 12 de Junho 1929 , foi uma adolescente judia obrigada a viver escondida dos nazistas durante o Holocausto. Escreveu um diário onde referia as condições horrendas onde foi obrigada a viver durante o holocausto. Mas principalmente foi uma sobrevivente, pois só foi descoberta em 1944, foi levada para um campo de extermínio (Bergen-Belsen) onde morreu com febre tifóide (Março 1945). Nasceu em Frankfurt am Main , sendo a segunda filha de Otto Heinrich Frank de e de Edith Hollander , uma família de patriotas alemãs que teriam participado da Primeira Guerra Mundial.